Cada um de vocês possui o
traço mais poderoso, perigoso e subversivo que a seleção natural já projetou. É
uma parte da tecnologia áudio-neural para reprogramar as mentes das outras
pessoas. Eu falo da linguagem, é claro, pois ela permite implantar um pensamento
de sua mente diretamente na mente de outra pessoa, e elas podem tentar fazer o
mesmo com você, sem que nenhum de vocês tenha que fazer uma cirurgia. Em vez
disso, quando você fala, está na realidade, utilizando uma forma de telemetria
não muito diferente do controle remoto da sua televisão. Só que este
dispositivo utiliza pulsos de luz infravermelha, sua linguagem utiliza pulsos,
pulsos discretos, de som. E, assim como você utiliza o controle remoto para
alterar ajustes internos da televisão para ajustar-se à sua vontade, você
utiliza a sua linguagem para alterar os ajustes do cérebro de outra pessoa para
ajustar aos seus interesses.
Linguagens são genes falando,
conseguindo o que querem. E imaginem o senso de maravilha de um bebê quando
descobre pela primeira vez, que só proferindo um som ele pode conseguir que
objetos se movam pelo quarto como por mágica, e talvez mesmo até sua boca.
Agora, o poder subversivo da
linguagem é reconhecido através das eras na censura, em livros que não podemos
ler, frases que não podemos usar e palavras que não podemos dizer.
De fato, a história bíblica da
Torre de Babel é uma fábula e um aviso sobre o poder da linguagem. Conforme
essa história, os primeiros humanos desenvolveram o conceito que, utilizando a
sua linguagem para trabalharem juntos, eles podiam construir uma torre que
levaria todos até o céu. Então Deus, irritado com essa tentativa de usurpar seu
poder, destruiu a torre e a seguir, para ter certeza que ela nunca mais fosse
reconstruída, ele espalhou as pessoas dando-lhes diferentes línguas. Isso nos
leva à maravilhosa ironia de que nossas línguas existem para evitar que nos
comuniquemos.
Mesmo hoje, sabemos que
existem palavras que não podemos usar, frases que não podemos dizer, porque se
o fizermos, podemos ser criticados, presos, ou mesmo mortos. E tudo isso por um
sopro de ar emanando de nossas bocas.