O livro de Graciliano Ramos é considerado o primeiro
livro infantil que trata de questões sociais. Quando foi publicado pela
primeira vez, em 1939, Ramos questionava o ser diferente. Um menino que não
tinha cabelos e um olho de cada cor era chacota das crianças que ele conhecia.
Raimundo era diferente e sempre estava sozinho por causa disso. Hoje é o que
chamamos de Bullying.
É um livro diferente de todos de Graciliano. É contado
em forma de realismo fantástico, também chamado realismo mágico ou realismo maravilhoso.
Esse tipo de literatura surgiu no século XX e tem elementos mágicos ou
fantásticos que, mas que dão a ideia de que fazem parte da “normalidade”, como
no livro, Raimundo vai para Tatipirun e lá todos os meninos acham normal ter um
olho de cada cor e não ter cabelos. Também o que acontece na história e que tem
relação com o realismo fantástico é que há uma transformação do comum e do
cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas.
É um livro extremamente sensível, que aborda “o que é
ser diferente?”.
Raimundo, sempre vivia isolado e se escondendo. Não
gostava que zombassem dele por ser diferente e quando ficava triste, fechava o
olho direito, depois o esquerdo, falava sozinho e achavam que estava ficando
maluco. Um dia em que estavam zombando dele, ele fechou os olhos, as vozes dos
meninos sumiam, ele atravessou o quintal e o morro e coisas estranhas
aconteceram. Estava em Tatipirun. Ficou surpreso ao ver que era perto de casa e
que a estrada em curvas era reta. Passou um automóvel por ele, mas ele tinha um
olho preto e um azul. Uma laranjeira lhe deu passagem toda amável veio falar
com ele que tudo e todos em Tatipirun eram muitos educados e que ali também não
existiam espinhos. Deu-lhe uma laranja e Raimundo seguiu seu caminho cheio de
coisas estranhas.
O menino chegou à beira do rio das sete cabeças onde
se encontravam os meninos pelados. Havia uns quinhentos, de todos os tipos, mas
todos completamente carecas e com um olho azul e outro preto. Raimundo ficou
com medo que também zombassem dele, mas não. Um deles perguntou de onde era,
Raimundo disse que era de uma terra distante, chamada Cambacará e o outro
perguntou se ele havia encontrado Caralâmpia pelo caminho. Ele perguntou se era
a laranjeira e todos riram dele que saiu encabulado e não viu o rio, caindo
nele. Mas as duas margens se aproximaram e a água desapareceu. Ele deu um passo
e então chegou ao outro lado do rio onde se escondeu atrás de uma árvore. Então
o rio de novo se abriu. O tronco disse que ele não precisava se esconder por
que os meninos estavam apenas brincando e lhe apresentou sua amiga, a aranha
vermelha que lhe ofereceu uma túnica para vestir. Ele escolheu a azul, da mais
pura seda. Ficou descalço e se sentiu em casa, mas estava preocupado com a sua
lição de geografia. Precisava voltar para casa.
Os outros meninos estavam à procura do menino que veio
de Cambará, mas ele disse à rã na beira do Rio que Cambacará não existia, foi ele
quem inventou. Os meninos o encontraram e perguntaram por que ele havia fugido.
Um deles era Pirenco. Raimundo queria
saber se o rio abria e fechava por que havia alguma máquina que fazia isso, mas
uma menina, a Talima disse que não, que todos os rios eram assim. Ali também
conheceu Sira.
Os meninos dizem a ele que Caralâmpia era uma menina
que virou princesa e sumiu. Todos saíram à sua procura. Raimundo aprende muitas
coisas e quando fala das coisas de Cambará os meninos acham que ele é
extravagante. Lá em Titipirun não tem chuva, não tem construções, não faz calor
nem frio, não há noite, os paus conversam, ninguém adoece, ninguém cresce...
Avistaram Caralâmpia no meio de vários meninos, com
uma túnica azul, um broche de vaga-lume e com pulseiras de cobra coral. Os
meninos colocaram Raimundo para falar com a princesa e ele disse que sua terra
era muito bonita e que se um dia ali fosse morar que traria seu gato.
Depois foram caminhar e encontraram a Sinhá Guariba e
pediram que ela contasse histórias, mas ela não contou. Estava caduca. Então
Caralâmpia conta por onde andou, mas Raimundo precisava voltar. Entristeceu,
chorou, mas disse que tinha a obrigação de estudar geografia. Despediu-se e
disse que ficaria com saudades. Foi até a beira do rio, devolveu a túnica à
aranha e foi embora, prometendo ensinar às crianças de Cambacará o caminho para
Tatipirun e que se lembraria sempre de tudo.
Breve
biografia
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de outubro
de 1892, em Quebrângulo, Alagoas. Criado na Fazenda Pintadinho, no sertão de
Pernambuco, aos sete anos de idade ingressou
no internato Alagoano, em Viçosa, e ali publicou sua primeira obra: o conto
"Pequeno pedinte",
Em 1905, Graciliano foi para Maceió, sendo matriculado
no Colégio Quinze de Março.
Ao completar dezoito anos, foi para “Palmeira dos
Índios”, em Alagoas, onde passou a residir, ajudando o pai em uma pequena loja
de tecidos.
Entre 1914 e 1915, então no Rio de Janeiro, trabalhou
como revisor nos jornais. Voltou a Palmeira dos índios onde vários de seus
familiares haviam morrido num surto de peste bubônica.
Em 7 de janeiro de 1928, Graciliano assumiu a
prefeitura de Palmeira dos índios. Em 1930, renunciou ao cargo, sendo, em
seguida, nomeado diretor da Imprensa Oficial do Estado, de onde se demitiu em
dezembro de 1931 por motivos políticos.
No ano seguinte, começou a colocar no papel seu
segundo romance, “São Bernardo”, em boa parte escrito na sacristia da igreja
Matriz de Palmeira dos índios.
Em 1933, foi nomeado Diretor de Instrução Pública de
Alagoas, permanecendo até 1936. Suas ideias políticas fizeram com que fosse
preso, sem processo regular, em vários presídios do Rio de Janeiro.
Seu drama e dos companheiros de cadeia foram relatados
em “Memórias do cárcere”, publicado postumamente em 1953.
“A terra dos meninos pelados”, obra escrita exclusivamente
para crianças, foi terminada nos últimos anos da década de 30, juntamente com
as histórias de “Alexandre e outros heróis” e “Pequena História da República”.
“A terra dos meninos
pelados” recebeu o Prêmio de Literatura Infantil,
concedido pelo Ministério da Educação, em 1937. Em 1938 o autor escreveu o
livro que se tornou sua obra-prima:
“Vidas secas”, seu quarto e último romance, voltado
para o drama social e geográfico de sua região — o Nordeste.
Graciliano Ramos — o Mestre Graça, como era
carinhosamente tratado — faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1953.
Exercícios:
Exploração do texto
1) Com auxílio do
dicionário, escreva o significado das seguintes palavras ou expressões:
aperrear:
mangar:
aplanar:
estirar
2) A história do
“menino pelado” é longa. Graciliano Ramos contou-a em pequenos capítulos ao
todo. Pelo que você acabou de ler, como era o menino?
3) Por que o apelido,
menino pelado, não irritava tanto assim Raimundo?
4) Por que Raimundo
falava muito sozinho?
5) Ao desenhar as
coisas maravilhosas sobre o país de Tatipirun, como o menino imaginava que eram
as pessoas daquele lugar?
6) A certa altura do
texto, o personagem passa do mundo real para o mundo da imaginação: talvez
tenha pegado no sono. Como foi a chegada a Tatipirun?
7) As ações do
personagem – levantar-se, entrar em casa, atravessar o quintal e ganhar o morro
– são frutos da realidade ou da
fantasia? Justifique.
Extrapolação do
texto
1) O que você achou da
atitude dos meninos pelados em relação ao
Raimundo?
2) Muitas crianças são
tratadas de modo diferente por outras crianças ou por algum defeito físico que
possuem, ou pela sua condição econômica, ou pela sua cor. O que você acha
disso?
3) Encontre no texto
adjetivos que caracterizam os seguintes
substantivos:
a) menino: _____________
b) cabeça: _____________
c) gênio: _______________
d) cara: ________________
e) areia: _________________
f) coisas: ______________
6) Raimundo sonhou com
a terra de Tatipirum. Escreva como é a terra de seus
sonhos. Ilustre seu texto.